Juntando-me ao meu filho, aos seus colegas da Creche e clientes do Lar de Idosos
Ontem assisti à inauguração de um parque infantil e a um improvisado teatrinho de fantoches.
De um lado os clientes mais novos fitavam com especial interesse e até alguma cobiça
a fila de cadeiras de rodas que se acomodara do outro lado da rua
posso adivinhar que ganhavam coragem para pedir brinquedo igual, com rodas iguais
pois que nunca terão visto por casa - não foi o meu caso
tal ironia forçou-me um nó na garganta
e não evitei algumas lágrimas
De tão inusitada prateleira,
até ali conduzida do lado oposto da rua,
como da vida,
os cidadãos usados,
crianças no seu tempo,
devolviam já apenas pálidos sorrisos
e nas caras tinham olhos,
olhos que viram tanto e tantas coisas
que agoram já só olhavam...
ternamente
ali depositados
terna mente
por filhos sem tempo
olhavam apenas
como que perpetuando memórias de um estado bruto de felicidade
de onde vieram um dia
ter a este estado desenganado
de nada pensar
só olhavam...
alegremente
tristemente
vagamente
ora além do que a vista alcança
ora um ponto imaginário...parecido com... ontem!?!
não, que não é já tempo de ilusões.
Suspirando!
e pensando em ... nada
agora, mais nada....
Que nunca na vida se sentiram com tanto tempo para esperar.
Mas o que é esperado que esperem?
Sofrer pouco, dir-se-á. Já não é pouco esperá-lo.
Voltei a procurar o olhar mais belo do mundo - que não fui a tempo de mostrar ao meu pai -
e encontrei o Tomás já encantado, seguindo os fantoches
sentado no chão
Concluí apenas pela incrível semelhança
dos gestos
dos sorrisos
das palmas
da abstração
do contentamento
do efémero
das reacções
entre a senhora, que alguém entretanto ajudou procurar uma sombra
(e agora pouco mais que vegetava) ao meu lado
e a minha criança sentada no chão
dois extremos
daquilo a que chamamos
vida.